sábado, 7 de março de 2015

CRÔNICAS: O QUE VOCÊ FAZ QUANDO ESTÁ TRISTE?

“Parem o mundo que eu preciso descer!”

E com esta piadinha, inicio a discussão desta crônica, deste texto crônico, onde deposito as situações crônicas da minha vida.

*suspiro*

Não há muito como evitar, estou triste, sinto-me como se eu estivesse num ônibus chamado vida e eu perdi o meu ponto anos atrás...

E então, você já respondeu a pergunta: O que você faz quando você está triste?

O caso nem sempre é simples, sabe? Depois que descobriram a tal da depressão e que ela pode vir a ser tão crônica que passou a ser considerada uma ‘doença’, o mundo vive na depressão. Tudo dói, tudo magoa... E o que as pessoas mais fazem é ferir...

A depressão acabe sendo isso, uma ferida, uma dor profunda no ser que não pode ser simplesmente curada, é causada por uma série de fatores incluindo medo, decepção e fracasso. Você passa tanto tempo fechado em si mesmo que quando precisa se abrir, ninguém estará lá para escutar você chorando, ouvir o que você tem a dizer, são coisas idiotas, coisa inúteis e desnecessárias, mesmo assim você precisa que alguém te escute, por algum motivo...

— Me escuta! Eu preciso de você, preciso de você vivo, preciso de você ao meu lado... Você é especial pra mim, não faça isso comigo, estou te implorando... Fica comigo!

Não há nada melhor que uma conversa, que algo motivador, algo que te traga a realidade. Você sabe o seu lugar, o que quer fazer, só não tem a confiança para seguir em frente e enfrentar os seus demônios. Você se considera um lixo, um inútil, um incapaz. Não entende porque o mundo ao seu redor é tão diferente de você, porque você parece sempre ser o anormal, você nem ao menos sabe o porquê das pessoas te ignorarem...

No meu exemplo, eu queria ser escritor...

*suspiro*

Como ser escritor no Brasil?!

No Brasil é improvável que alguém consiga ser escritor sem ter que fazer algum “trabalho comum”, ser escritor é ter um hobby enquanto você trabalha com alguma outra coisa, você não vê oportunidades por aí de algum tipo de profissão onde o fundamental é escrever. Eu, pelo menos, nunca vi e nem sei se é possível encontrar. É algo tão distante da minha realidade que começo a acreditar que seja apenas um sonho, uma fantasia maluca, um devaneio de um pobre que já deveria estar trabalhando... Por causa da descrença naquilo em que eu realmente queria fazer, fico triste... E não há ninguém que queira conversar sobre isso...

Eu não sei o que falar, como me explicar... De onde eu iria tirar coragem pra dizer para o mundo o que eu quero fazer, sendo que o mundo não dá a mínima pra isso? Eu vivo como um fantasma, como mais um cara que tem um blog, um cara que vive no meio de pessoas que não dão a mínima para o que eu escrevo, penso ou sinto... Não tenho ninguém com quem abrir meu coração e dizer:

— Eu quero morrer...

A maioria das pessoas que me vê no dia-a-dia deve achar que eu sou só um idiota, preguiçoso, lerdo e desnecessário. Acho que as pessoas nem sentiriam a minha falta se eu de fato não estivesse mais aqui...

E assim eu continuo pensando, pensando que a minha seria muito diferente se eu ganhasse na loteria e pudesse realizar alguns dos meus caprichos, caprichos esses que a cada vez que eu imagino, quanto mais fácil é para imaginar, mais distante eu sei que estou longe de realizá-lo.

Um dia, acho que no ano de 2014, ou teria sido no final de 2013, eu sonhei que havia ganhado um cheque, não lembro ao certo a quantia, mas uma quantidade volumosa, algo entre R$10’000,00 e R$25’000,00. E sabe o que eu disse? Aquilo foi uma surpresa pra mim! Eu disse algo como:

— Agora posso fazer faculdade...

Até hoje eu não tenho pretensões para fazer faculdade, não faço ideia de que carreira eu poderia seguir ou me interessar. Mas, naquele momento, eu disse que eu iria fazer faculdade. Eu não sei como! Talvez algo dentro de mim soubesse o quanto isso seria importante agora e estava tentando me avisar que isso seria um problema. Não sei... Sei apenas que não tenho dinheiro para fazer faculdade, não tenho como seguir meus sonhos e só me resta... Não sei o que me resta...

Sabe, eu tenho uma câmera digital, ela está quebrada, não consegue focar, o resto funciona, mas o mais importante está quebrado. Eu adorava tirar fotos, fazer alguns vídeos, aos poucos eu conseguia transformar o mundo ao meu redor através do meu olhar. De certo que não era lá grande coisa, contudo, era algo novo pra mim, algo interessante. E, com a sorte que eu tenho, a câmera simplesmente quebrou, eu juro que não a deixei cair, eu apenas queria tirar uma foto de um cachorro e a descobri quebrada. Sem mais nem menos! Quem tem dinheiro prontamente irá dizer:

— Mande pro conserto!

Eu faria, se pudesse! Eu esperava que meu pai mandasse a câmera para o concerto e que eu pudesse continuar a tirar minhas fotos. Acabou que ele achou muito caro mandar concertar a câmera e me devolveu a câmera do jeito que ela estava, na maior cara de pau... Senti-me desolado, não queria nem olhar para o objeto. Agora ele está no meio da minha bagunça, ficará lá por tempo indeterminado ou até que eu fique com tanta raiva de mim mesmo e termine de quebrá-lo.

Mas, o que me desanima agora não isso...

Meu irmão mais novo, o trabalhador da casa, comprou uma câmera digital nova pra ele. Isso acabou me lembrando da minha câmera e de como eu a queria de volta, de como eu sou um inútil que não consegue concerta uma maldita câmera e de como eu sou infeliz.

Quem sabe devo estar entrando em depressão ou simplesmente não estou aguentando mais a pressão por ser infeliz. Sinto-me como se fosse a minha própria câmera, o que é mais importante não funciona e não pode ser concertado... Talvez ela ter quebrado tenha sido apenas um piada sem graça do destino querendo imitar a minha vida...

O que você faz quando está triste?

Eu deveria sair de casa, dar uma volta, tomar um ar... Estou há dias pensando nisso. Desde que voltei do Ceará só consegui sair uma única vez, e foi o suficiente para criar o nome do blog: Eu Não Pertenço A Lugar Nenhum (I Don’t Belong To Nowhere). A ideia era justamente essa, eu não encontro um lugar para pertencer, afinal, mundo perfeitos não existem. Tudo o que há por aí é efêmero, não durará muito e você se verá como um Eike Batista da vida, num dia um bilionário, noutro você estará devendo até as calças. Infelizmente, sair me custaria R$7 de passagem ônibus (R$3,50 para ir e outros R$3,50 para voltar). Tudo o que eu tenho agora na carteira são R$10, isso não dá pra comprar quase nada e eu tenho que pensar bem antes de ir a qualquer lugar. Isto é, se houvesse um lugar...

*suspiro*

Não há nenhum lugar que realmente seja interessante para ir, na maioria você gasta algum dinheiro... Eu não quero ter que gastar tudo e ficar sem nada...

O que você faz quando está triste?

— Procure uma saída...

Eu estou tentando ver alguma luz no fim do túnel e, quanto mais eu me movo, mais fundo eu entro na areia movediça... Não consigo me segurar em lugar nenhum e estou vendo a hora que eu não vou mais conseguir respirar se aproximando...

— Este é o fim. Segure a sua respiração e conte até dez. Sinta a Terra tremer e então... Ouça meu coração explodir, de novo.

Se eu pudesse fazer algo bonito com naturalidade, talvez eu não fosse tão infeliz, tenho vontade de cantar, mas minha voz, minha voz é horrível...

Por hoje é só pessoal!
Eu não pertenço a lugar nenhum...

Até a próxima...
...

segunda-feira, 2 de março de 2015

INSIGHT: FANFIC - CENA DE GATHO DE GABRIEL KOLBE


Gaius caminha pela floresta de Évora, no extremo norte, próximo a região de Gatho. Ele está atento, os perigos daquelas terras são traiçoeiros, principalmente quando se chega perto do grande abismo abissal. O local estava inquietantemente silencioso naquele momento, Umbral dera uma de suas escapadas clássicas, sem dizer para onde fora, e o mercenário estava sozinho. Uma criatura o espreita:

- Umbral! - diz ele em alto e bom som. - É você seu desgraçado?! Já cansei dessas suas brincadeiras idiotas!

Ninguém responde.

Gaius continua caminhando, crendo ter sido apenas o vento. Observa o sol e segue pelo caminho que já deveria conhecer: "Tem algo errado", pensa ele, "será que eu me perdi de novo?".

- UMBRAL! - grita novamente, desta vez com mais vontade. - Venha aqui agora seu covarde!

Um zunido começa a soar, era o som de algo se aproximando. Gaius instintivamente segura a empunhadura de sua espada pecadora e se prepara para o que estiver por perto.

"Será um Castannï?", pensa ele.

O zunido começa a se distanciar. Pelo canto do olho, Gaius vê um vulto passar em alta velocidade.

- Merda - diz ele, tirando pecadora da bainha. - Quem está aí?!

O som volta a ficar alto. Gaius olha confuso para todos os lados sem saber de onde o zunido vinha. Parecia que estava vindo direto em sua direção, contudo, não via nada em sua frente. O mercenário semi-cerrou os olhos, apertou os dentes e torceu as duas mãos na empunhadura da longa espada. Ele sentiu um baque, como um golpe de vento, levantando algumas folhas ao passar por ele. O zunido ficara, então, ensurdecedor.

- Maldição! - esbraveja ele, lembrando-se que um dos problemas em usar uma espada para duas mãos é não poder proteger o resto do corpo: ou ele largava a espada para tampar os ouvidos ou ficaria desprotegido.

Ele hesitava, sentia algo por perto, lhe parecia uma fera com fome, e não ousava largar a espada. O barulho foi ficando distante e a dor foi sendo aliviada naturalmente.

- O que foi isso? - se pergunta ele, baixando a guarda e balançando a cabeça por causa do chiado.

"Grr..." fez a criatura atrás dele.

Gaius engole a seco e, sentindo um arrepio lhe percorrer a espinha, vira o rosto lentamente: "Merda, uma aberração das trevas..."

O corpo da quimera era comprido e esguio como o de um lagarto com seis patas, terminado numa fina e longa cauda de três pontas afiadas. Seu tamanho era descomunal, só a sua boca tinha a altura do mercenário e, no entanto, conseguia se camuflar na vegetação com facilidade, sendo preciso forçar a vista para se ter certeza de que ela estava realmente ali. Sua respiração era pesada, fazendo o cabelo de Gaius balançar. Seus oito olhos cinzentos o fitavam sem piscar, especialmente os dois principais, maiores que os outros, e o par de antenas que sobressaiam-se do topo da cabeça balançavam lentamente para cima e para baixo. Subitamente, suas antenas ficaram rijas e estáticas:

"Esse monstro está... sorrindo?!", pensa Gaius, ao ver a bocarra se abrir e mostrar as várias fileiras de dentes.

Naquele instante, Gaius não pensou duas vezes, deu um pulo, tomando espaço, e correu para cima de um tronco curvado, saltando para cima da aberração com a pecadora em riste.

- AHHH! - brada ele.

A criatura some em pleno ar. "Merda!", a espada acaba fincada na pedra. Gaius faz força para retirá-la e estica bem os braços. Um filete de luz passa logo abaixo dele e o mercenário arregala os olhos:

"Uma armadilha?!"

Um fio extremamente fino e resistente dá uma volta em seus braços. Era tarde demais, o corte fora rápido e preciso.

- Não, não, não... - Gaius vai ao chão, vendo seus braços ficarem junto a espada. - MERDA!

Perdendo muito sangue, o mercenário tenta se por de pé, é uma tarefa árdua, ele se sente como uma inseto que não consegue se desvirar. "A panaceia! Droga! Eu tenho que usar a panaceia antes que seja tarde!", pensa ele, tentando alcançar o potinho com o líquido vermelho que está bem na sua frente, da maneira que pode. Logo ele começa a chamar pelo amigo:

- Umbral! Socorro, seu filho da mãe, socorro!!!

Alguém se aproxima. Gaius sente a respiração ficar difícil, a vista embaçar e não consegue ver quem é, nem reconhece sua voz:

- Tsc... Quando é que você vai aprender? Ninguém deveria se aventurar por estas terras... Coragem é para os tolos!

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