quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

CRÔNICA: TENHO 24 ANOS, SEM FACULDADE E QUERO TRABALHAR. E AGORA?

*suspiro*

E lá vamos nós outras vez pelo inquietante mundo de Victório Anthony... Eu me sinto a pessoa mais chata do mundo tendo que falar, e só falar, de problemas. As pessoas não gostam de problemas, ninguém gosta de problemas, todo mundo quer soluções! Mas está difícil...

Onde eu moro, tem uma garagem que fica no nível da rua e subia-se uma escada para o outrora quintal ligado a lage acima da garagem que fazia parte da minha infância - era um local enorme, que tinha uma ótima vista, de onde se podia ver os prédios do centro de São Paulo. Esse lugar não existe mais... No lugar, tomando todo o espaço, uma casa foi erguida para o filho do meu tio e dono da casa... Antes da minha vida virar de ponta cabeça de vez por causa da mudança para o Ceará, naquele quintal e naquela lage, eu saía no meio da madrugada para respirar e pensar - era um momento de alívio dessas minhas constantes preocupações. Ali eu podia simplesmente admirar a calma da cidade, momento raro de uma cidade conturbada onde as pessoas acordam pela manhã para ir trabalhar e só voltam a noite. Ali eu respirava e conversava comigo mesmo, debatia durante um bom tempo assuntos diversos, sem esperar que alguém ouvisse ou se importasse, era eu e apenas eu... Agora eu tenho que me contentar com a lage da nova casa, onde não há proteção alguma e acidentes podem acontecer. Não me sinto confortável em fazer isso, mesmo assim eu preciso, não há outro lugar onde eu possa fazer isso...

O que eu quero contar desta vez é que eu olho para o horizonte, vejo o enorme tamanho dessa cidade e não consigo imaginar onde eu possa me encaixar... Lembra-se do título do blog? "Não pertenço a lugar nenhum"? Pois é, não é apenas uma simples figura de linguagem, é a minha situação como pessoa.

Acho que tudo isso começou quando eu comecei a trabalhar como vendedor na Santa Ifigênia, região famosa pela venda de eletrônicos e afins, e não guardei nada para mim. Não que eu ficasse gastando com roupas e outras coisas, eu até ficava um bom tempo andando pelas lojas que eu gostava antes de comprar qualquer coisa, mas o que eu gostava mesmo de fazer na época era comprar mangás (história em quadrinhos japonesa), pra mim o maior prazer do mundo era começar a ler e deixar essa realidade. Era como se eu entrasse na história e, não importasse onde eu estivesse, se em casa ou no ônibus em movimento, eu estava em outro lugar. Como os mangás de sucesso ganham suas animações e pude acompanhar algumas na época, eu já cheguei a ficar em dúvida se eu havia lido ou assistido, de tão entretido que a leitura era para mim. Foi nisso que eu acabei investindo o meu dinheiro. Eu não gostava da ideia de comprar roupas novas como a maioria, eu gostava mesmo era de uma boa história... Infelizmente, o assunto não é esse, eu preciso fazer algo da minha vida...

Eu não fiz faculdade, do jeito que as coisas sempre foram pra mim, fiz um vestibular que me pareceu interessante e só, nunca nem pensei em realmente tentar entrar numa faculdade. Talvez eu nem tivesse conseguido terminar, mas pelo menos agora eu teria uma direção, quem sabe... O fato é que eu fiquei preso num circulo vicioso: eu preciso estudar pra trabalhar e trabalhar para estudar. Nenhum curso é barato, sempre há investimentos que precisam ser feitos mesmo quando o curso é de graça. Não faço ideia do porque desse ser o sistema oficial quando ele não serve a quem precisa, do porque quando você procura por emprego, a maioria das empresas pedem experiência, se há pessoas que nunca tiveram oportunidade para trabalhar... Há programas do governo que tentam resolver isso, contudo, além de que eu estou velho de mais, eles não prestam de verdade... Eu fiz dois cursos básicos, eram interessantes, aprendi alguma coisa, mas não era o bastante, era algo, irrisório. No curso de informática básico, o material era um lixo, quase infantil, que nem foi aproveitado e a maior parte do conteúdo eu já conhecia. No outro curso básico que tive a oportunidade de ir, foi um pouco melhor. Era um curso de marcenaria não muito longe de casa, pude fazer um raque desses pra televisão e uma mesinha de centro, Foi o melhor curso que tive o prazer de terminar, mesmo que curtíssimo... E depois que eu terminei foi que eu entendi que ele não bastava. Fui chamado para entrevistas de emprego em marcenarias longe de casa, na segunda eu consegui entrar em experiência por uma semana... não durei um dia. Eu não fui despedido ou fiz algo errado, eu apenas fiquei tão exausto que tremia sem me aguentar. Consegui suportar até o final do dia e dizia para mim mesmo que não iria mais voltar. No dia seguinte eu estava com muitas dores pelo corpo...

Será que um curso realmente te prepara para o mercado de trabalho?

A resposta para isso é curta e grossa: NÃO. Nenhum curso te prepara para nada, ele apenas te presta conhecimento e VOCÊ e somente VOCÊ é que irá descobrir o que fazer com ele, VOCÊ é que deverá ter a vontade de seguir enfrente e fazer valer a sua pessoa. O curso NUNCA fará isso por você.

Então, para que serve estudar então?

O estudo é uma direção. Com ele você sabe o que pedir para ser empregado. Se você faz curso de marcenaria, você irá procurar emprego numa marcenaria; se você faz curso de administração, você poderá procurar emprego num escritório; se você fez curso de gastronomia, você procurará um restaurante para trabalhar; e por aí vai... Eu fiz um cursinho básico de informática e um de marcenaria (fora os de Design de Interiores e Administração que não terminei) e sabe quantas vagas de emprego estão interessadas nisso? NENHUMA. Mesmo que eu esteja apenas sendo pessimista, nenhuma empresa, pelo que eu saiba, se preocupa com o empregado em primeiro lugar, elas não querem ouvir a sua história e depois te ajudar...

Uma das coisas que eu achei muito diferente da cultura japonesa sobre o trabalho é que, por um motivo que eu não sei qual é, há o costume dos novos empregados se apresentarem aos clientes dizendo "eu sou o novo emprego, cuide bem de mim". Eu, francamente, não entendo... Isso não existe no Brasil! Sei que os japoneses são a imagem da polidez e educação, e isso é apenas reflexo de pessoas que agem de forma regrada, mesmo assim, é um cuidado bem maior do que eu consigo imaginar para o mercado de trabalho no Brasil.

Quando eu procuro emprego por um site de empregos a primeira coisa que eles pedem é "que cargo você procura"? Isso me irrita! Eu não sei que tipo de emprego eu realmente quero! Eu não pude estudar e agora me contro sem rumo... E o que é pior, é obrigatório que você use a categoria que você quer... Então o que me resta e catar no meio das possibilidades oferecidas pelo site por uma categoria neutra, como ajudante. Tudo bem, eu coloquei assim e fui ver o que o site oferecia. Me deparei com algo tão ridículo que eu deveria escrever um livro satirizando a forma como as empresas querem que o candidato seja, comparar com a realidade e mostrar que nem ao menos o anuncio foi feito de maneira adequada! Exemplo, na última visita que fiz ao site, procurei por uma vaga diferente: estoquista. Eu tenho uma certa mania de querer colocar os produtos das prateleiras do mercado no lugar (mesmo que o meu pseudo-quarto nunca esteja arrumado) e resolvi que essa poderia ser uma colocação melhor que simplesmente ajudante. Haviam apenas duas vagas, uma parecia ser bem interessante. Quando fui ler, estava escrito algo como: para loja na Zona Norte e que só pegue uma condução. Até aí mantive o interesse e fui verificar, por pesquisa no Google, qual era o endereço da loja, já que o anuncio é tão curto que não ajuda em nada. Sabe o que eu descobri? Há mais de uma loja na zona norte! Ou seja, eu provavelmente terei de pegar duas conduções, pois nem há uma loja dessas perto de casa... Essa confusão foi brochante, como a maioria dos anúncios de emprego são pra mim...

Afinal, qual é o meu problema?

Eu não quero nenhum desses empregos que aparecem por aí... Meu primeiro emprego foi como vendedor, eu sou tímido, introvertido e me sinto um idiota toda vez que começo a falar com alguém, pois parece que eu estou falando demais, falando o que não devia... Não me sinto bem em trocar ideias com as pessoas, justo o que é a alma do negócio de vendas. Não quero trabalho pesado, o único dia em que fui trabalhar como marceneiro me mostrou que eu precisava fazer academia pra conseguir começar a fazer algo do gênero. Eu não tenho experiência em carteira, nem fiz um curso numa faculdade... O que sobra? Nada, eu acho... Praticamente não há necessidade de pessoas para trabalhos do gênero que eu procuro e me parece que as empresas que poderiam procurar por pessoas novas para isso não fazem anúncios com tanta frequência... O sistema não consegue ser construtivo, ele está solto, embolado, e não há ninguém que possa resolver esse problema, pois a maioria das pessoas sabe o que fazer da vida e, por necessidade, fará qualquer coisa para conseguir o que quer. O mercado de trabalho é competitivo, voraz, e eu sou apenas um cara simples que não quer ter que brigar por nada...

O que eu realmente gosto de fazer?

É o que você acabou ler! Eu gosto de escrever, faço isso compulsivamente, falando sem parar, tentando me explicar e ser entendido, quando o muito que consigo é deixar tudo mais confuso.

E então?

O Brasil não valoriza escritores... Todo escritor no Brasil tem um "trabalho de verdade", por assim dizer. Ser escrito é o hobby dos escritores. De certo que há escritores que fazem sucesso e se mantém da escrita, mas não há empresas procurando por eles, as editoras não querem autores nacionais, o que elas querem mesmo são livros que se tornem best sellers, elas não se importam com os autores até que eles provem serem interessantes. Eu não tenho todo o tempo do mundo... eu preciso de algo para agora, para ontem, algo que me dê dinheiro já.

A dúvida eterna...

Ser feliz ou fazer o que é preciso? Alguns podem pensar: "por que não os dois?", é, eu também poderia pensar em algo assim... se eu soubesse do que isso se trata... Eu vivo num mundo em que nada faz sentido pra mim, sinto como se eu tivesse que abandonar completamente quem eu sou para ser o que eu não quero ser e somente assim conseguir trabalhar. Eu só consigo imaginar empregos que irão me tomar o meu tempo e me deixar estressado, incapaz de sonhar... Eu sou neurótico, como pode ver, cara leitor, pelo que eu me conheço eu sei que se eu não encontrar uma válvula de escape eu vou explodir a qualquer momento... Não é porque eu estou em casa, no notebook, que eu estou menos estressado, pelo contrário! Eu só consigo ficar pensando em tudo isso que eu te disse e não encontrar uma única saída viável, eu travo completamente, não tenho uma única referência para me guiar...

Eu sou um idiota, admito, um ser anormal que... não pertence a lugar nenhum... É o que eu sou, anormal, tão diferente que até os anormais me acham um idiota porque eu não consigo resolver o problemas mais simples que "qualquer um consegue resolver".

Às vezes eu realmente acredito que não posso pertencer a este lugar, que eu deveria desistir de tudo e esquecer toda essa idiotice minha...

Estou começando a ter medo das pessoas, a me fechar cada vez mais, não devo nem ser mais a sombra do garoto animado que não sabia do que a vida se tratava e começou a trabalhar de qualquer jeito, sem saber exatamente o que deveria fazer e conseguia fazer isso sem maiores problemas. Agora esse garoto cresceu e não consegue lidar com as próprias emoções. Minha mente diz uma coisa, meu coração diz outra e nunca chegam a um acordo. Estou dividido, triste, desesperado, procurando por uma saída que pudesse me salvar...

Nos meses de Abril, Julho e Novembro, todos os anos, um site americano conhecido por NaNoWriMo - que seria a abreviatura para "mês nacional para escrever um livro" em inglês, promove entre os escritores que eles escrevem um livro inteiro dentro de um mês - pelo menos 50 mil palavras. Ano passado eu participei da edição de Novembro e consegui escrever as 50 mil palavras mínimas... Mas ainda não terminei o livro. Por um simples motivo, minha cabeça está num espiral interminável de preocupações com o futuro e isso apaga completamente a minha capacidade de criar mundos. O máximo que eu consigo fazer é escrever crônicas e textos genéricos, colocar pra fora as minhas inquietações, já que ninguém nunca se importou com elas... Eu só consigo dizer "eu não sei"quando me perguntam mesmo...

Eu não queria me arrepender do que eu faço, do que eu gosto de fazer, mas o tempo passa, e você vai ficando com vergonha de si mesmo, se sentindo um cretino preguiçoso que não consegue levar nada a sério...

Por enquanto, tentarei pensar em alguma outra coisa...
Eu não pertenço a lugar nenhum...

Até a próxima... :o\