O que é o amor?
Para muitos é tão simples dizer que é isso ou aquilo... Para
mim não é fácil dizer, me ocorrem tantas ideias que nem ao menos consigo
dizê-las sem pecar em algum momento, sem me atravessar e dizer algo que na
realidade não é dessa forma. Talvez, enquanto não amamos, temos tanto amor
guardado que acabamos sendo os melhores conselheiros amorosos, verdadeiros
psicólogos do coração. E, no entanto, quando amamos, ou deveríamos amar, nos
esquecemos de dar carinho, compreensão, de sermos ao menos educados, e então
trocamos olhares de raiva e não suportamos estarmos no mesmo local que a pessoa
que supostamente amamos.
O amor acaba?
Possivelmente há algo que começa, arrasa a sua vida e
termina em algum momento, mas não chamemos isso de amor, deixemos o amor ser
aqui aquele sentimento puro e prometido as “almas gêmeas”, as pessoas que
merecem uma a outra e que são doentes uma pela outra, que sentem que o parceiro
é uma extensão de si mesmo. Por quê? A resposta é simples: o amor foi
banalizado, jogado de lado, o sexo é mais urgente, a paixão é mais urgente,
usar alguém é mais urgente; o amor, o ato de colocar o bem de outrem em primeiro
lugar, é deixado para outros tipos de situações, como trabalhar como voluntário
ajudando os menos favorecidos, cuidar de parentes idosos até o fim da vida,
etc.
Não há momento na vida em que mais se pense em amar do que
no momento em que se está sozinho. O amor, por capricho, nasce primeiro na
fantasia, no amor platônico, aquele que não é necessário estar ao lado de
ninguém para existir, ele apenas está lá, te atormentando, te fazendo chorar ao
ver um filme romântico que seria perfeito se não fosse pura ficção. Através
dessa fagulha, acaba por nascer a paixão, o toque alvoroçado de dois corpos que
se conectam e deixam de ser dois para se tornar apenas um.
...
No meio da balada, a moça de vestido vermelho olha para um
rapaz bem apessoado, músculos salientes e jeito de homem forte. “Eu quero esse”,
pensa ela. Os dois se apresentam rapidamente, o som da música é muito alto, os
dois quase não conseguem se ouvir e se beijam pela primeira vez. Os lábios dos
dois ficam juntos por horas, quase como se estivessem colados. Ele passa a mão
por onde bem entende e ela quer que ele faça isso. Os dois vão para o banheiro
e fazem ali mesmo, sobre a privada, naquele cubículo apertado. Os dois gemem de
prazer e terminam a noite exaustos.
— Foi bom
pra você? — pergunta ele.
— Hahah...
— ri ela rapidamente. — Foi ótimo! — ela abre a bolsa, tira um cartãozinho com
seu nome e telefone, e o entrega a ele, antes de se despedir com uma piscadela. — Me liga gato!
Ela o deixa sozinho, arrumando o cinto ao redor da calça.
Ele se olha no espelho, sorri confiante e diz para si mesmo:
— Ainda dá
tempo de pegar mais uma!
Do lado de fora, a moça encontra um táxi passando, faz sinal
para o taxista parar e vai direto para casa. Ela liga o celular e usa a câmera
frontal como espelho, sendo iluminada pela luz da tela, tentando ver o quanto o
batom estava borrado. Estava satisfeita, ainda sentia a adrenalina percorrer o
seu corpo. Recostou a cabeça no banco, relaxando, e pensou consigo mesma: “Ter
pegado AIDS foi a melhor coisa que pôde me acontecer...”.
...
O que você acabou de ler, caro leitor, é apenas uma
interpretação minha de uma das várias histórias que correm por aí, uma lenda
urbana, se preferir, onde um aidético percorre as festa noturnas a procura de
desavisados e, de alguma forma, seja através de sexo ou até pelo uso de uma
seringa, decide se vingar de cada pessoa que se pareça com aquela que a
infectou com este vírus terrível. Aqui não cabe uma avaliação da minha
qualidade como escritor, é apenas uma história que surgiu do andamento dos meus
pensamentos a cerca do amor. O amor...
Será que o amor existe?
Não estou perguntando pelo amor dedicado as outras pessoas
sem olhar a quem, que é muito bonito também; estou perguntando pelo amor entre
duas pessoas, o amor que estive comentando antes de desenrolar a relação destrutiva
que pode acontecer aos desavisados, aos descuidados que pregam que são capazes
de amar qualquer um, quando na verdade estão usando as pessoas para saciar seus
interesses sexuais. Estou falando daquela relação construída entre duas pessoas
que se importam uma com a outra e que conseguem conviver bem nos momentos bons
e, principalmente, nos ruins. Por algum motivo idiota, esse tipo de amor é
muito pouco valorizado, é considerado “coisa de velho” envelhecer ao lado de
alguém, permanecer ao seu lado e lutar para construir uma relação forte.
Lembro-me de uma história, acho que tem até um filme, em que
um casal pobre quer dar um presente um para o outro. Ele tem um relógio de
bolso, mas não tem a corrente para prendê-lo a calça. Ela tem belos cabelos,
mas não te um pente (ou seria um prendedor, enfim) para segurá-los
adequadamente. Eles então fazem uma surpresa um para o outro. Ele decide vender
o relógio, para comprar um conjunto de pentes para ela. Ela decide cortar e
vender os longos cabelos para comprar a corrente para o relógio dele. Não me
lembro como continua a história, se eles resolveram bem o dilema que criaram ao
não serem sinceros um com o outro – mesmo que diante do desejo de surpreender o
companheiro; mas agora, relembrando este ato tolo e inútil, me sinto até
emocionado. Os dois deram os melhores bens que tinham para alegrar um pouco a
vida pobre que levavam. De certo que, fora do contesto original, eu possa estar
errado quanto ao conteúdo, mesmo assim me parece uma demonstração clara de
amor.
Eu não sei o porquê, mas meus pensamentos insistem em me
dizer que quando eu estiver apaixonado, eu talvez mal consiga olhar diretamente
em seus olhos, me sentiria mais tímido do que nunca, sentiria um prazer
incomensurável percorrer o meu corpo por estar perto dessa pessoa que nem deve
existir... É, você me pegou, caro leitor, eu não tenho esperanças de encontrar
alguém, muito menos de ser capaz de cuidar de outra pessoa quando não sou capaz
de cuidar de mim mesmo. Então, porque eu estou falando sobre esse assunto se
nem ao menos tenho alguém? Como eu disse, é quando não se tem ninguém que se
fica delirando de amor e se sente uma necessidade incontrolável de não estar
mais sozinho...
Eu fico imaginando que poderia ser essa ou aquela pessoa,
que eu estou carente e que desejo ser amado e que... e que somente se fosse
amor de verdade, um milagre poderia acontecer. Infelizmente, não sou uma pessoa
aberta, talvez isso devesse partir da outra pessoa, talvez eu ainda caia na
ilusão de que a pessoa errada possa ser o amor da minha vida... É possível que
seja puro instinto de sobrevivência querendo tomar conta de mim e me obrigar a
deixar descendentes de alguma forma. Mas antes, há um último ponto que quero me
questionar antes de terminar.
Você adotaria uma criança?
Eu estou inclinado a dizer que, desde que fiz 18 anos e a
lei foi modificada para que se possa adotar desde os 18, vez ou outra me pego
pensando nisso, na vontade de amar alguém como pai. Talvez seja apenas a idade
falando que é o momento certo para ter um filho, e que tudo isso não passe de
uma ilusão criado pelo instinto. Contudo, a bem da verdade, é algo bem parecido
com o amor que gostaria de dedicar a outra pessoa. É tudo muito bonitinho nos
meus pensamentos, admito, e que a realidade é bem mais amarga do que aparenta
ser, mas, quem sabe, apesar de não estar pronto financeiramente pra sustentar a
mim mesmo, eu possa estar pronto para começar a amar...
Ser sincero numa relação é a parte mais difícil, nos
lembramos de ficar com raiva, de ficarmos tristes, frustrados... Mas nunca
lembramos que do outro lado há uma pessoa tão machucada quanto você está, que
também tem seus medos, suas loucuras, sua vontade de ser feliz... É tão difícil
lembrar isso!
Existem diversos tipos de pessoas, algumas são mais fáceis
de lidar do que com as outras, mas, e você? Você é uma pessoa fácil de lidar?
Será que você será o primeiro a esquecer da sensação que havia no começo da
relação, que você daria tudo para estar com aquela pessoa e que agora não
consegue pensar em nada para fazê-la se sentir melhor?
Provavelmente...
Existem tantos maus hábitos que são cultivados no dia-a-dia
que é difícil acreditar que você disse alguma verdade naquele momento de ilusão,
talvez você tenha se enganado e tenha dito belas palavras ao monstro que
destruiria a sua vida... Talvez você seja o monstro que destruiu a vida de
alguém... Eu não sei...
A maioria das pessoas só quer cuidar da própria vida, EU só
quero cuidar da minha vida, parar de me sentir triste pelas coisas que eu não
tenho e deveria ter, e simplesmente acreditar que, mesmo que não haja hora
certa, mesmo que eu nunca encontre ninguém para amar, que eu possa dedicar
alguns momentos da minha vida e pensar direito no que significa o amor antes de
estragar a vida de alguém... A última coisa que eu quero é fazer alguém que eu
amo infeliz.
E pra você, o que é o amor?
...
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