quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

CONTO: O COPO DA INANIÇÃO

Era uma vez um garoto pobre que precisava muito começar a ganhar dinheiro. Seus pais não podiam ajudá-lo, trabalhavam o dia inteiro e mal conseguiam o suficiente para comer. Estava com fome e andou pelo mercado a procura de algo que pudesse fazer. Pensou em trabalhos pesados, mas era fraco e não poderia com o peso. Pensou também em ser um vendedor, mas era muito tímido, não conseguiria falar direito com ninguém. Passando por um senhor grande e suado do calor do dia, ouviu dizer:

"Como eu gostaria de um copo de água! Mas tenho que ficar aqui trabalhando e não posso deixar a loja..."

O menino ficou pensando naquilo, procurou algo que pudesse ajudá-lo e viu um copinho de barro muito bonito. Foi até a fonte de água do mercado, um bebedouro público colocado ali pelo rei. Pegou um pouco d´água e levou até o senhor que estava com sede. Muito agradecido pelo serviço, deu ao garotinho $0,05. O pobre menino sentiu suas esperanças serem renovadas com a moeda de pouco valor e já começava a imaginar como seria seu futuro se conseguisse levar o trabalho a sério.

Ele retornou a fonte e buscou um novo copo d'água. Porém, antes que pudesse enchê-lo, dois guardas o pegaram pelos braços e o levaram até um mercador velho e rico:

"Este é o seu copo, senhor?", perguntou um dos guardas apontando para o copo nas mãos do menino.

O idoso frisou os olhos com força, sua vista não era muito boa:

"Sim, é este!"

O menino olhou para o copo e ficou sem saber o que fazer:

"N-Não! É meu!"

"Oh, você quer o MEU copo?!", respondeu o mercador com seus olhos gananciosos brilhando afoitos por um bom negócio. "Se quiser o copo, terá de pagar $50 moedas de ouro!"

O garotinho ficou perdido, ele tinha certeza que o copo não era de ninguém e que ele estava abandonado:

"Mas, mas... Eu o encontrei!"

"Então você o roubou!", disse um dos guardas. "Você irá para a cadeia por roubo!"

"Não! Eu não roubei!", retrucou desesperado. "Eu preciso dele para pegar água na fonte e poder trabalhar!"

"Oh! Você andou fazendo dinheiro às custas do MEU copo?!", perguntou o velho interesseiro. "Isso só piora as coisas para você!"

O garotinho ficou com tanto medo que deixou o belo copo cair no chão, quebrando em vários pedaços. Com os olhos úmidos, fechou a expressão:

"E-eu não queria..."

"Tsc, tsc...", fez o velho mercador. "Agora você terá que pagar por isso também!"

"Por favor senhor, eu não tenho dinheiro..."

"Não se preocupe, garotinho, nada vai lhe acontecer..." disse um dos guardas, fazendo o menino quase sorrir, contudo, a maldade daqueles homens era ainda maior.

"Seus pais serão presos até pagarem o que devem!", falou o outro guarda.

"Não, não temos dinheiro! Pelos deuses! Não temos dinheiro!", exasperou-se o pequeno.

"Azar o seu...", disse o velho, satisfeito.

Naquela tarde, quando voltaram para casa de mais um dia cansativo de trabalho que não rendia muito, os pais do menino foram surpreendidos pelos guardas reais, algemados e levados para a prisão. O menino foi jogado no chão e deixado lá, sem ninguém que pudesse ajudá-lo. Começou a chorar e não sabia mais o que faria dali para frente.

"O que eu faço?"

Sua barriga doía de fome e simplesmente esperou. Guardando a casa como podia.

Uma semana depois, o senhor que bebera a água do menino soube da história e lembrou-se que fora ele que havia perdido aquele copo. Estava tão feliz por ter bebido aquela água que jugou melhor deixar o pequenino ficar com ele, sem que ele soubesse. Foi ao juiz, reclamar que ele era o verdadeiro dono do objeto que colocara os pais do menino na cadeia e que poderia provar, trazendo consigo os outros cinco copos que formavam o conjunto. Os guardas reconheceram que eram realmente iguais ao que o menino havia deixado cair e logo os pais do menino foram soltos.

Chegando em casa, encontraram-na fechada. Dentro dela, o menino os estava esperando na cama do casal, mais magro do que estava antes da confusão começar. Os pais o chamaram, ele não respondeu. A mãe o chacoalhou, ele abriu os olhinhos miúdos e tornou a fechá-los. Preocupada, a mão o puxou ajeitando em seu colo, fazendo carinho nele:

"Querido, o que você tem? Diz pra mamãe, sim?"

Ele abriu os olhos mais uma vez e respondeu com uma voz fraca:

"Me desculpe, eu não queria..."

Os olhos do garotinho se fecharam pela última vez.

Depois que ficara sozinho, estava com tanto medo de mais alguém lhe chamar de ladrão, de acusá-lo de roubo, que não saiu mais da casa. Tudo o que ele tinha eram $0,05 e não daria para comprar nada para comer...

...


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